Empresas se adaptam à entrada dos jovens no mercado consumidor; veja tendências para atender esse público
A entrada das novas gerações, com destaque para a Geração Z e os millennials, no mercado consumidor tem obrigado as empresas a se adaptarem às demandas desse novo público. Alguns setores, como o mercado imobiliário, já estão passando por transformações.
O especialista em assuntos imobiliários e CEO da plataforma AluOK, Eduardo Luiz, descreve uma mudança de necessidades que antes eram tidas como prioridades e agora não são mais vistas desta forma, seja devido à atual conjuntura macroeconômica ou ao gosto das novas gerações.
“Antigamente nós tínhamos o conceito em que eu tinha que estudar, me formar na melhor faculdade, arrumar um emprego que garantisse longevidade no cargo, ter uma boa aposentadoria, comprar a casa própria e ter o meu carro. Agora, essa nova geração nasce questionando essas definições”, avalia.
Ele completa explicando que os hábitos não mudaram, mas sim, o conceito de moradia, mobilidade e emprego. Para Luiz, a nova geração está traçando novos objetivos que até então não eram buscados pelas gerações anteriores.
“A geração millennial [nascidos entre 1981 e 1996], por exemplo, está na quarta posição na compra de moradia. Se perguntar para qualquer jovem se ele deseja ter a casa própria, todos dirão que sim. Mas eles querem ter acesso a essa casa própria, não querem se endividar por essa moradia. Eles querem estudar, viajar e aprender e colocam a moradia como uma opção para um futuro que pode até ser distante”, explica.
Para o especialista, a prioridade atual é ter acesso aos bens e não necessariamente possuí-los. “Isso é uma diferença crucial em tudo que estamos vivenciando enquanto comércio, bens de consumo e, principalmente, quando falamos de imóveis. As pessoas querem ter o acesso ao bem, mas elas não querem ter o bem”, reforça.
Alguns dos exemplos desse cenário citados por ele são o forte aumento no número de locações de imóveis nas últimas duas décadas e do uso de aplicativos de transporte frente à queda no número de pessoas que procuram tirar carteira de motorista.
O presidente do Sindicato dos Proprietários de Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais (Sindicfc-MG), Alessandro Dias, também tem observado uma queda no número de alunos mais jovens nas autoescolas mineiras.
“O setor em Minas tem sofrido com a queda de alunos motivada por diversos fatores, entre eles a mudança de perfil dos jovens que, em muitos casos, não têm a habilitação como prioridade”, relata.
Já a diretora de marca da Localiza&Co, Tatiana Rocha, acredita que o primeiro carro segue sendo um dos objetivos das pessoas da Geração Z [nascidos entre 1997 e 2010], muitas vezes pautado na necessidade de mobilidade.
Ela explica que o mercado de mobilidade inclui diversos serviços, como venda ou locação de veículos e os aplicativos de transporte. Para a diretora, as mudanças de comportamento precisam ser atendidas, da forma como elas se apresentam, pensando sempre nas necessidades do cliente.
“A mobilidade sempre vai ser um tema importante para todas as gerações, seja pelo desejo de se conquistar um carro próprio ou pela opção por um carro alugado para o fim de semana ou, até mesmo, uma assinatura que permita uma flexibilidade”, defende.
Consumidor jovem tem mais preocupação com meio ambiente
De acordo com o relatório global realizado pela NielsenIQ e GfK, em parceria com a Word Data Lab (WDL), as pessoas da Geração Z no Brasil estão em busca de um estilo de vida mais sustentável e saudável.
Neste grupo, 47% dizem que não compram de países com políticas ambientais inadequadas. Além disso, 43% afirmam que deixam de comprar um produto se é descoberto que apenas se faz passar como um produto “verde”.
O especialista do mercado imobiliário, Eduardo Luiz, relata que os novos clientes que buscam imóveis demonstram preocupação com questões como tratamento e reutilização da água da chuva e se a energia consumida é renovável.
Ele ainda destaca que a novageração de consumidores tende a pesquisar mais sobre o produto e a empresa, principalmente, nas redes sociais.
Comunicação com os mais jovens deve entreter, e não interromper
Outro ponto importante citado no levantamento da NielsenIQ é a necessidade de as marcas possuírem uma comunicação assertiva.
Tatiana Rocha avalia que a principal diferença do público mais jovem está no desejo de se sentir atraído pelo conteúdo, ser entretido e não interrompido: “As marcas precisam ser criativas e falar a língua da sua audiência para impactá-la de uma forma autêntica”.
Para ela, a tendência é de que os clientes passem a demandar, cada vez mais, personalização dos serviços e experiências. Segundo Tatiana Rocha, ninguém quer vivenciar algo padronizado, todos desejam se sentir especiais em algum nível. “Quando se trata de fidelizar esse cliente, fazê-lo escolher sua marca para seguir com ele, essa personalização é crucial”, ressalta.
Para realizar esse trabalho, além da criatividade, também é necessário o uso da tecnologia. A diretora de marca da Localiza&Co aponta que as ferramentas contribuem com dados, insights, praticidade e agilidade, além de ser um meio de suporte para o contato de forma ininterrupta.
Ela ainda destaca que, com o avanço da tecnologia, a relação entre consumidor e empresa deixou de ser predominantemente analógica e passou a adotar características digitais, com mais agilidade.
“O consumidor atual espera respostas rápidas, soluções imediatas e um relacionamento constante, tudo facilitado por plataformas on-line, aplicativos e inteligência artificial, que garantem um atendimento eficiente e disponível 24 horas por dia”, completa.
Tatiana Rocha ressalta que as empresas devem sempre oferecer os melhores serviços e comunicá-los de maneira cada vez mais conectada com a necessidade de cada perfil de cliente. “O importante é estarmos sempre atentos para atender às necessidades dos clientes na hora certa e, para isso, uma comunicação eficaz e direcionada é o melhor caminho”, destaca.
O estudo da NielsenIQ ainda destaca que a maioria (61%) dos brasileiros que nasceram entre 1997 e 2012 procuram reviews de pares da mesma geração e outros consumidores sobre o produto antes de tomar uma decisão de compra. Além disso, 73% disseram que recomendam novos produtos a seus familiares e amigos.
Tendências para atender as novas gerações no futuro
O relatório global ainda alerta para a importância de se preparar para o futuro da Geração Z, uma vez que ela deve se estabelecer como a maior geração populacional do planeta em 2030, com 25% do total. Além de ter o maior aumento de gasto na América Latina nos próximos seis anos, com variação positiva de US$ 192 bilhões.
A pesquisa da NielsenIQ, GfK e WDL aponta que as empresas precisam acompanhar as tendências, uma vez que a Geração Z se mostra mais cautelosa e atenta aos movimentos das redes sociais, influenciando e sendo influenciada.
O relatório destaca que novos meios de consumo estão surgindo com essa geração, como compras em aplicativos e anúncios patrocinados.
Quanto às tendências para o futuro, Tatiana Rocha avalia que as empresas devem estar sempre investindo em novas tecnologias que facilitem o acesso aos serviços oferecidos e tornem a experiência do cliente cada vez mais fluida.
“As pessoas continuarão precisando chegar a algum lugar, seja com carros próprios autônomos, carros elétricos ou com serviços de mobilidade”, aponta.
A diretora acredita na pluralidade de soluções e na possibilidade de o carro ser algo muito além de um meio de transporte, mas sim, um facilitador das mais diferentes jornadas, capaz de proporcionar oportunidades de experiências únicas.
“Nós da Localiza&Co entendemos que, cada vez mais, os clientes têm demandas de mobilidade muito plurais e, para cada uma delas, o jeito de se beneficiar do uso do carro muda”, completa.
Já o CEO da plataforma AluOK, Eduardo Luiz, alerta para o risco de apostar em determinados conceitos que ainda não foram completamente validados no mercado, como é o caso dos imóveis de apenas um quarto. “Tem que se ter um cuidado porque, na medida em que se cria um conceito e ele ainda não está validado, estamos propensos a encarar as consequências se não der certo”, pontua.
Para ele, as empresas devem inovar, agir de forma rápida e acreditar em modelos diferentes daqueles que estavam sendo adotados antes. “O que falta para nas empresas, hoje, é um pouco dessa mudança de mentalidade; estando aberta ao novo e entender o consumidor, que tem outra percepção totalmente diferente das empresas”, completa.
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Fonte: Https://diariodocomercio.com.br/economia
Autor: Diário Do Comércio